Em
relação aos filhos, ainda temos o canône 31, que proíbe a nomeação dos descendentes
dos religiosos para exercer cargos na Igreja nos mesmos templos seculares onde
os pais estavam estabelecidos.
Antônio
condena, também, aqueles religiosos que utilizam o dinheiro da Igreja para ajudar
os parentes, ou pessoas poderosas em troca de benesses, ao afirmar que “em
parte é sacrilégio dar a pertença dos pobres a quem não é. Se algumas coisas
têm a dar, deves dar ao parente, não por ser parente, mas por ser pobre”. Desta
forma fica claro que, para Antônio, o dinheiro das Igrejas, também tinha a
função de ajudar os pobres.
Já
no sermão do 14º domingo de Pentecostes, Antônio apresenta uma síntese da sua idéia
de sacerdócio ao afirmar que:
O lugar do preceito do Senhor são os
prelados, os clérigos e os religiosos, nos quais deve haver lugar especial. Mas
aí! Os mesmos preceitos do Senhor foram consumidos pelo fogo da luxúria e da
avareza no seu lugar, nos clérigos e religiosos. A caridade, a castidade, a
humildade, e a pobreza, especiais preceitos do senhor, foram destruídos nos
clérigos e nos religiosos, porque são invejosos, luxuriosos, soberbos e avarentos.[1]
O
que nós podemos salientar é que para Frei Antônio de Pádua/Lisboa os
sacerdotes, de todas as escalas hierárquicas da Igreja, eram os culpados pela
situação problemática vivida por tal instituição naquele momento, fato este que
também pudemos observar na maioria dos cânones do IV Concílio de Latrão, que
tem como principal preocupação a correção destes religiosos. Já que segundo
Antônio:
O Senhor dá ventre estéril aos prelados e
pregadores perversos. Visto que o seu espírito não engravida com a graça do
Espírito Santo, permanece estéril de boas obras, sem filhos, e desta forma os seus úberes, isto é, a ciência
de ambos os Testamentos, por eles pregada, é seca e infrutuosa.
Antônio,
porém, tem como finalidade a peleja contra a propagação das idéias heréticas,
enquanto o Concílio em questão busca, como principal objetivo, a
institucionalização da Igreja. Acreditamos que a sua função de mestre de
teologia da Ordem dos Frades Menores o fez assumir esta tarefa de reformador
dos maus hábitos que corrompiam o clero, principalmente quando observamos o
apelo constante no Sermão do 9º Domingo de Pentecostes onde ele clama:
Ò prelado, conhece diligentemente o aspecto
de teu rebanho, isto é, do teu súdito, se tem na fronte o Tau da paixão do
Senhor, recebido no Batismo, ou então, se o raspou e escreveu por cima o sinal
da besta. E considera os teus rebanhos, não suceda que algum infeccionado com a
doença da heresia ou do cisma mate outros.
Para
Antônio o combate destes maus hábitos passava pela concepção de um clero que tivesse
como principal item de preparação a formação intelectual, que o daria como guia
principal em seu ministério, a razão. Depois um dos fatores mais importantes
nestes homens seria o comprometimento com as coisas espirituais sem se
preocupar com dinheiro, posses e assuntos ligados ao poder temporal. Estes religiosos
não poderiam ser casados ou ter filhos
pois só assim poderiam se dedicar exclusivamente ao seu sacerdócio e não
se preocupariam em cuidar do futuro de sua família.
Antônio
sinaliza ainda que este religioso deveria preocupar-se em conhecer seu rebanho
sendo para eles um exemplo a ser seguido, pois dele dependia o entusiasmo que o
povo teria em
seguir Jesus Cristo. Fazendo com que os membros do seu clero
agissem assim a Igreja estaria preparando um religioso ideal que não iria
tremer “diante do pecado, que exaspera o próprio Deus”, e que estaria capacitado para que não houvesse uma “quebra
perante a adversidade porque se opõe, pela defesa da justiça aos que procedem
como perversos e maus”.[2]
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