São Francisco

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O SACERDOTE IDEAL (3ª Parte)

doutor

Em relação aos filhos, ainda temos o canône 31, que proíbe a nomeação dos descendentes dos religiosos para exercer cargos na Igreja nos mesmos templos seculares onde os pais estavam estabelecidos.
Antônio condena, também, aqueles religiosos que utilizam o dinheiro da Igreja para ajudar os parentes, ou pessoas poderosas em troca de benesses, ao afirmar que “em parte é sacrilégio dar a pertença dos pobres a quem não é. Se algumas coisas têm a dar, deves dar ao parente, não por ser parente, mas por ser pobre”. Desta forma fica claro que, para Antônio, o dinheiro das Igrejas, também tinha a função de ajudar os pobres.
Já no sermão do 14º domingo de Pentecostes, Antônio apresenta uma síntese da sua idéia de sacerdócio ao afirmar que:
O lugar do preceito do Senhor são os prelados, os clérigos e os religiosos, nos quais deve haver lugar especial. Mas aí! Os mesmos preceitos do Senhor foram consumidos pelo fogo da luxúria e da avareza no seu lugar, nos clérigos e religiosos. A caridade, a castidade, a humildade, e a pobreza, especiais preceitos do senhor, foram destruídos nos clérigos e nos religiosos, porque são invejosos, luxuriosos, soberbos e avarentos.[1]
O que nós podemos salientar é que para Frei Antônio de Pádua/Lisboa os sacerdotes, de todas as escalas hierárquicas da Igreja, eram os culpados pela situação problemática vivida por tal instituição naquele momento, fato este que também pudemos observar na maioria dos cânones do IV Concílio de Latrão, que tem como principal preocupação a correção destes religiosos. Já que segundo Antônio:
O Senhor dá ventre estéril aos prelados e pregadores perversos. Visto que o seu espírito não engravida com a graça do Espírito Santo, permanece estéril de boas obras, sem filhos, e  desta forma os seus úberes, isto é, a ciência de ambos os Testamentos, por eles pregada, é seca e infrutuosa.
Antônio, porém, tem como finalidade a peleja contra a propagação das idéias heréticas, enquanto o Concílio em questão busca, como principal objetivo, a institucionalização da Igreja. Acreditamos que a sua função de mestre de teologia da Ordem dos Frades Menores o fez assumir esta tarefa de reformador dos maus hábitos que corrompiam o clero, principalmente quando observamos o apelo constante no Sermão do 9º Domingo de Pentecostes onde ele clama:
Ò prelado, conhece diligentemente o aspecto de teu rebanho, isto é, do teu súdito, se tem na fronte o Tau da paixão do Senhor, recebido no Batismo, ou então, se o raspou e escreveu por cima o sinal da besta. E considera os teus rebanhos, não suceda que algum infeccionado com a doença da heresia ou do cisma mate outros.
Para Antônio o combate destes maus hábitos passava pela concepção de um clero que tivesse como principal item de preparação a formação intelectual, que o daria como guia principal em seu ministério, a razão. Depois um dos fatores mais importantes nestes homens seria o comprometimento com as coisas espirituais sem se preocupar com dinheiro, posses e assuntos ligados ao poder temporal. Estes religiosos não poderiam ser casados ou ter filhos  pois só assim poderiam se dedicar exclusivamente ao seu sacerdócio e não se preocupariam em cuidar do futuro de sua família.
Antônio sinaliza ainda que este religioso deveria preocupar-se em conhecer seu rebanho sendo para eles um exemplo a ser seguido, pois dele dependia o entusiasmo que o povo teria em seguir Jesus Cristo. Fazendo com que os membros do seu clero agissem assim a Igreja estaria preparando um religioso ideal que não iria tremer “diante do pecado, que exaspera o próprio Deus”, e que estaria capacitado para que não houvesse uma “quebra perante a adversidade porque se opõe, pela defesa da justiça aos que procedem como perversos e maus”.[2]



[1] Sermão do 14º Domingo de Pentecostes
[2] Idem.

sábado, 16 de novembro de 2013

O SACERDOTE IDEAL (2ª Parte)

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No mesmo sermão Antônio afirma que a “embriaguez rouba o sentido” o que está de acordo com o cânone 13, que repreende os sacerdotes que se entregam a bebedeira e por isso podem “perder o espírito e aderir a paixões carnais”.
O pecado da gula é um dos sete pecados capitais que recebeu mais ênfase no século XIII[1] e era considerado um dos mais influentes sobre o corpo. Antônio, como outros escritores cristãos, dedica partes de sua obra para criticar os religiosos que se empanturravam e se embriagavam. Este pecado, para os pensadores cristãos do período, vai ser o caminho maior para a luxúria, sendo indicado o consumo comedido do álcool para que os religiosos não se deixassem levar pelos pecados da carne.
Frei Antônio deixa bem claro que a função do religioso é a orientação espiritual de seus fiéis, e censura o cuidado destes para com os bens materiais, como podemos ver no sermão do 5º Domingo de Pentecostes, quando o frade escreve que:
O Senhor roga ao prelado da sua Igreja que a afaste um pouco da terra, isto é, que afaste do amor dos bens terrenos os que foram confiados ao seu governo.[2]
A simonia, por exemplo, é, dentro deste âmbito das preocupações com as coisas terrenas, uma das práticas que a Igreja tenta condenar e que para Antônio deixa o sacerdote desabilitado a prestar os seus serviços espirituais, pois
Todo aquele que vender ou der o espiritual ou anexo ao espiritual por oração ou dinheiro, por palavra ou dom, por promessa ou oferta, por temor ou amor terno ou carnal, é simoníaco, e não pode salvar-se, a não ser que renuncie e faça verdadeira penitência.[3]
No Sermão do 9° Domingo de Pentecostes o frade usa o livro de Provérbios para afirmar que a  simonia é como uma “mulher insensata e clamorosa, cheia de atrativos e que nada sabe nem entende” (Prov. 9, 13-18), pois o simoníaco ao negociar o espiritual é um insensato, uma vez que, para o frade o dom de Deus é gratuito. Desta forma Antônio procura atacar de frente um dos graves problemas da Igreja do período, reforçando a idéia de que a busca da correção dos maus hábitos dos religiosos é a ferramenta mais efetiva para o combate aos hereges, já que para o franciscano a Igreja se dissipava com a simonia.


Antônio escreve que: “vendem bois os que não pregam por amor de Deus, mas por lucro temporal”, como assim fica claro nos cânone 63, 64, 65 e 66 dos decretos do Concílio, que chama esta prática de corrupção e ordena que nada pode ser pedido como permuta para o recebimento da consagração dos bispos, da benção dos abades, da ordenação dos clérigos, da entrada de irmãs nos mosteiros, para a nomeação de pároco, a sepultura dos mortos e a benção aos parentes. Podemos observar, portanto, que o religioso ideal para o teólogo tem que ser honesto e fiel à sua missão espiritual, que é ministrar os sacramentos sem cobrar ou exigir nada em troca, preocupando-se simplesmente em ser um transmissor das graças divinas, pois como ele mesmo denuncia:
...os sacerdotes, antes, para falar com mais verdade, os mercadores, estendem a rede da sua avareza para ajuntar dinheiro, porque celebram missas por causa  de dinheiro. Se não cressem que iriam receber, de forma alguma celebrariam missa. E assim um sacramento de salvação transforma-se em instrumento de cobiça.
Outro exemplo desta sua apreensão e de sua total aderência aos planos do Concílio está no trecho em que ele exemplifica, condenando todos os mais importantes religiosos da hierarquia da Igreja, dizendo que:
...Jesus Cristo, hoje é vendido por negociantes Arcebispos e Bispos e demais prelados da Igreja. Correm por aqui e por acolá, compram, vendem e revendem a verdade com mentiras e oprimem a justiça com simonias. Os bufaneiros são os abades os priores hipócritas e os falsos religiosos, que vendem pelo dinheiro do louvor humano as falsas mercadorias da santidade alheia, sob pretexto da religião, na praça da vaidade mundana.[4]
Não podemos esquecer que antes de entrar para a Ordem dos Frades Menores frei Antônio viveu entre os Cônegos Regrantes em um dos mosteiros mais ricos de Portugal. Onde com certeza para a manutenção padrão financeiro e das benesses dos superiores a simonia devia estar presente. Outro fator importante é que a Igreja de Roma vem sendo criticada em relação a sua ostentação conseguida através da troca do sagrado por bens materiais, por diversos movimentos que denominava de heréticos inclusive pelos franciscanos que também em seu modo de vida religiosa são uma contestação a política da Santa Sé. Por tudo isso Antônio procura orientar os religiosos incentivando-os a modificar estas práticas.


Antônio coloca, assim como alguns cânones de Latrão IV, que o principal cuidado do sacerdote deve ser com a espiritualidade de seu rebanho, pois “os sacerdotes são para vigiar”, sendo que para isso eles devem conhecerdiligentemente o aspecto do rebanho, isto é do seu súdito, se tem em sua fronte o tau da paixão do senhor, recebido no batismo, ou então raspou e escreveu o sinal da besta”. A luta da Igreja contra os maus hábitos dos religiosos tem neste discurso de Antônio um eco estrondoso, pois para o maior controle dos fiéis estes religiosos deveriam, além de conhecê-los e policiar a vida deles, ser um exemplo de fidelidade a Igreja e de testemunho de fé.
Podemos observar aqui a preocupação pastoral de Antônio ele não está querendo um simples controle dos fiéis pela instituição, ele busca na verdade a salvação as alunas através do esforço, que para ele é uma obrigação dos religiosos.
Outro grande ponto para a demarcação do “sacerdote ideal” passa pela questão do matrimônio dos sacerdotes e da situação dos filhos dos religiosos. Esta preocupação está contida no seguinte trecho do sermão do 5º Domingo de Pentecostes:
A subsistência do sacerdote, com efeito, hoje é a mistura de duas coisas, a palha do negócio terreno e o trigo da oferta eclesiástica. Comem tal mistura os jumentinhos, isto é, os filhos dos sacerdotes. Estes, com mulher e filhos, pretendem libertar o povo de Deus do cativeiro do diabo; mas o senhor irá ao seu encontro e o matará, se não se separarem da mulher e dos filhos.[5]
Esta visão de Antônio tem como principal motivo o uso, do dinheiro do dízimo e doações dadas a Igreja, por parte dos religiosos para dar subsistência as suas esposas e filhos, uma vez que:
...com as oblações dos fiéis, por eles esfolados , engordam seus jumentos, os filhinhos da focária[6] e os próprios filhos. Houve preceito na Lei de o bastardo, isto é, nascido de meretriz, não entrar no templo do Senhor. E eis que filhos de meretrizes não só entram, como também comem os bens da casa do Senhor.[7]
Aqui, mais uma vez, encontramos um Frei Antônio preocupado em pregar, isto é, propagar as idéias de Latrão, desta vez seguindo o Decreto de número 14. Porém, neste cânone, abre-se uma exceção para os religiosos em que o país de origem tenha como costume o casamento dos sacerdotes. Estes, contudo, devem manter-se fiéis a este matrimônio. Podemos observar então que, para o Frade, a continência e a castidade, assim como para o Concílio, são importantíssimas para assumir suas tarefas religiosas, pois:
Moisés, como diz no livro do Êxodo, quando se dirigia com a mulher e os filhos para o Egito, a fim de libertar o povo de Israel, um Anjo quis matá-lo; mas quando deixou a mulher e os filhos, o Anjo abandonou-os...Estes (os prelados), com  mulher e filhos, pretendem libertar o povo de Deus do cativeiro do diabo; mas o Senhor irá ao seu encontro e os matará, se não se separarem da mulher e dos filhos.
Constatamos, desta forma, que além de ser contrário ao matrimônio dos sacerdotes por achar que uma família atrapalhava o bom trabalho missionário, o frade atribui aos religiosos que tem filhos de casamentos legítimos ou não a culpa, em certo grau, pela preocupação com a maior arrecadação de bens, uma vez que, precisa cuidar de sua família. Denuncia também os maus hábitos nos mosteiros e conventos e cita que empregadas mantém relações sexuais com os religiosos gerando filhos que são chamados por ele de “jumentinhos”.


[1] CARVALHO, Fabricia Angélica Teixeira de. Santidade e corpo feminino no século XIII. In: Ciclo de Tradição Monástica e Franciscanismo. Rio de Janeiro: PEM/ITF, 2003.
[2] Sermão do 5º Domingo de Pentecostes.
[3] Sermão do 9º Domingo de Pentecostes.
[4] Sermão do12º Domingo de Pentecostes
[5] Sermão do 5º Domingo de Pentecostes
[6] A focária era a mulher que tratava do fogo, na cozinha, uma espécie de cozinheira. Pela sua má fama tornou-se sinônimo de concubina.
[7] Sermão do 5º Domingo de Pentecostes.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

I Mostra de Cinema de Madureira

Relações entre Vida Religiosa e Autoridade Eclesiástica


Exibição do Filme: “Irmão Sol, Irmã Lua” (Fratello sole, sorella luna, Franco Zeffirelli, 1972), seguida de debate sobre a vida se São Francisco e sua relação com o papado quando da formação da ordem franciscana.
Debatedor: Prof. Me. Jefferson Eduardo dos Santos Machado (Doutorando do PPGHC-UFRJ)
Dia: 16/10/13
Horário: 10:30 - 13:00
Local: Universidade Estácio de Sá – Campus Madureira - Est. do Portela, 222, Madureira Shopping - Pisos 5, 6 e 7 - Madureira
Promoção: Programa de Estudos Medievais – PEM
Universidade Estácio de Sá – UNESA

sábado, 9 de novembro de 2013

O SACERDOTE IDEAL (1ª Parte)

Neste capítulo, apresentaremos uma análise sobre a construção do religioso ideal no século XIII, presente no discurso de Antônio de Pádua/Lisboa e que para nós foi fruto de uma releitura que o frade realizou ao tomar contato com as decisões do IV Concílio de Latrão, realizado em 1215. Este que foi, até então, o mais importante Concílio da Igreja Romana, tendo como principal marca a busca de um maior controle moral, social e doutrinário por parte da instituição em relação a seus membros. Na procura de uma maior efetivação destas decisões, a Igreja instituiu a obrigatoriedade de certos sacramentos e buscou disciplinar a vida dos religiosos de modo geral. Implementações estas que nos fizeram selecionar para análise os Decretos do IV Concílio de Latrão, documentos publicados pela Professora Raimunda Foreville[1] e a obra Sermões, que foi escrita entre 1223 e 1227, em sua versão portuguesa[2] Obras Completas de Santo Antônio de Lisboa, edição de Antônio Maria Locatelli.[3]

Como apontamos no capítulo anterior esta obra possui objetivos religiosos e morais, constituindo-se numa tentativa de dispor os irmãos franciscanos de um instrumento de trabalho apostólico para auxilio na função de pregação, pois para o próprio frade,O pregador, portanto, deve tirar dos úberes o leite da narrativa, para dele poder tirara manteiga suavíssima da moralidade.” [4]
Começamos aqui a observar o quanto era importante para o frade a manutenção de um certo grau de “moralidade” para que o projeto missionário da Igreja Medieval desse resultados. Podemos constatar também que ele atribui, a partir deste trecho descrito acima, que a pregação tem papel fundamental nesta tarefa. Para Antônio, não só as palavras vão convencer os fiéis, além delas os pregadores precisam colocar em prática os preceitos por eles ensinados.
Já neste detalhe pode-se observar a obediência do autor às diretrizes da Igreja, pois segundo o cânone 10 do Concílio de Latrão IV, a Igreja preocupava-se com o apresto dos pregadores que deveriam ser “... pessoas capacitadas, ricas em obras e palavras".[5]

Ao analisarmos sua obra, podemos observar uma pujante inquietação de Antônio com a postura e o estilo de vida dos sacerdotes, pregadores e prelados. Para este frei, a maneira como estes homens viviam refletia na forma como a Igreja, isto é, os fiéis se comportariam e viveriam a fé. No Sermão do 9° Domingo de Pentecostes, o frade admoesta os religiosos chamando atenção para este fato, pois, segundo ele, estes agem como os abutres, uma vez que,
 Com o mau exemplo de sua vida, põe fora os súditos antes de poderem voar; isto é, antes de poderem desprezar o mundo e amar os bens celestes, expulsa-os do ninho da fé e do bom propósito. Aí! Quantos pelo mau exemplo dos prelados se converteram aos hereges, abandonando o ninho da fé.[6]
Ainda em Portugal, Antônio defrontou-se com várias práticas que a Igreja passou a condenar de forma mais enérgica, a partir do Concílio citado à cima. Nossa análise da obra antoniana nos permite concluir que o frade conhecia muito bem as práticas simoníacas e nicolaístas dos religiosos e as combateu através de suas linhas.
Antônio, talvez por ter sido um monge agostiniano, ou por estar zeloso das ordens romanas, preocupou-se principalmente com a formação intelectual e moral destes homens e por isso, no sermão do 4º Domingo de Pentecostes, ele diz, ao analisar a passagem bíblica “Pode porventura um cego guiar outro cego?” (LC. 6, 40), que “O cego é o prelado ou o sacerdote perverso, privado da luz da vida e da ciência”, pois na visão do frade, os religiosos eram mais vulneráveis a luxúria, avareza e ao zelo excessivo com os bens temporais a partir do momento que estivessem “sem os olhos da vida e da ciência...já que carecem do guia da razão”. Temos então, a partir desta constatação, o primeiro item para a recriação de um modelo sacerdotal na obra antoniana. Os sacerdotes devem estar preparados intelectualmente para a transmissão correta da Palavra de Deus, preocupação esta que está diretamente ligada a sua experiência de combatente das heresias, tarefa que exigiu do frei um grande conhecimento teológico.
Devemos lembrar aqui que como adepto da “máxima perusina”, que acreditava nas Sagradas Escrituras como a verdadeira ciência, Antônio cobra dos sacerdotes e futuros pregadores uma maior preocupação com o estudo da Bíblia que, para os seguidores deste pensamento, é o caminho para a conversão.
O Concilio, em seu cânone de número 11, orienta os bispos a preocuparem-se com o preparo dos sacerdotes, contratando mestres em teologia para ensiná-los na leitura da Sagrada Escritura e orientá-los sobre o ministério pastoral.

Milagre da bilocação de São Francisco. 
Francisco aparece em um Capítulo Provincial 
no momento em que Antônio pregava.

No cânone 27, por exemplo, o cuidado com o grau de instrução dos novos religiosos é tão grande, que existe a orientação para não se ordenar pessoas ignorantes e rústicas para o governo pastoral, sob a ameaça de duras penas aos bispos que assim procederem. Apreensão igual tem o cânone 10 do Concílio em questão, pois este ordena aos bispos a procurarem, diante do impedimento dos mesmos praticarem o ofício da pregação, “pessoas capacitadas, ricas em obras e palavras”.
Faz-se mister a observação a partir daqui da releitura feita pelo teólogo aos transformar os cânones, que são uma linguagem institucional, em uma linguagem espiritual e recheada de metáforas para que esta estivesse mais próxima a linguagem do povo e dos sacerdotes que não possuíam, muitas vezes, o preparo intelectual desejado por Antônio e pela Igreja.
Com o crescimento dos movimentos de contestação, inclusive no seio da própria Igreja, esta preocupação vem nos esclarecer que a Instituição procurava adequar-se aos novos tempos, buscando através dos estudos uma maior preparação dos sacerdotes para que estes pudessem através de sua pregação e visão teológica, convencer os fiéis de maneira mais segura e embasada.
Antônio por sua vez, ao preparar seu manual para os pregadores, queria implementar um ritmo de estudos nos menores, que os fizessem refletir sobre a necessidade de serem exemplos para os religiosos que estavam sendo criticados pelos movimentos heréticos. Como podemos observar no decorrer deste trabalho o frade vai trabalhar no combate aos movimentos contestatórios da doutrina católica e por isso, busca através do ensino e preparação dos irmãos torná-los completos para a transmissão Palavra de Deus. Já que os Franciscanos já possuíam a preocupação de serem um exemplo vivo da busca da verdadeira, fé cristã, iriam a partir da preparação intelectual, completar o conjunto perfeito para o convencimento das populações assoladas pelas heresias.




[1]              FOREVILLE, Raimunda. Lateranense IV.Vitória: Editorial Eset, 19.
[2]              Consulta realizada também nos textos em latim in: MACEDO, Jorge Borges de. Os Sermões de Santo Antônio. Porto: Lello & Irmão, 1983.
[3]              MACEDO, Jorge Borges de. Op. cit.
[4]              Sermão do 9° Domingo de Pentecostes.
[5]              SILVA, Andréia Cristina Lopes Frazão da. Op. cit.
[6]              Sermão do 9° Domingo de Pentecostes.