Seu modo de
escrever os Sermões nada tem a ver com os escritos deixados pelo fundador da
Ordem dos Frades Menores e nem com os relatos deixados por aqueles que acompanharam
o nascer do ideal de vida franciscano. Quem buscar ali a ingênua expressão
franciscana das origens ficaria desiludido e irritado. Contudo, a natureza
franciscana está presente, traduzida em termos bíblico-patrísticos, em um latim
matizado e refinado, em uma expressão lacônica, passional e de muita imaginação.[1]
Palpita dentro dos Sermões uma grande
paixão pela penitência, quer dizer, a conversão, para a existência evangélica,
de uma vida vã e maléfica. Descobrimos a predileção pelos humildes, os pobres,
os simples, os marginais, pela salvação daqueles a que o frade português se
entregou completamente. Está presente o ardor pela incessante e radical reforma
da Igreja e de seus pastores, expressada em uma linguagem veemente, indignado,
às vezes candente, outras desolado. Dentro da obra encontra-se também um
sentimento de ternura a Jesus menino e crucificado. No artigo Cristocentrismo no pensamento Antoniano
o historiador português João Mário Soalheiro Costa[2]
afirma que “Cristo afigura-se, com efeito, como horizonte de compreensão e chave
hermenêutica do discurso antoniano. Certamente que não é a única perspectiva de
análise, mas é indelevelmente a que marca a inteligibilidade dos Sermões.”
Observamos
ali o desejo da perfeição cristã, da separação das velhas e falsas realidades
terrenas, do amor pela Virgem da pobreza, a nostalgia pelo céu. A forma resulta
então em ampla divida da tradição cultural da Igreja, enquanto os conteúdos
estão vitalmente impregnados de sensibilidade franciscana, aquela primavera
espiritual da qual Antônio foi um dos maiores protagonistas.
Porém ao
nos debruçarmos nos relatos sobre o movimento franciscano do primeiro século e
ao lermos os Sermões podemos observar que graças à difusão dos estudos
sagrados, implementou-se uma profunda transformação nos menores, com
conseqüências imprevisíveis e também revolucionárias para a completa
fraternidade e para o ideal originário do movimento seráfico.[3]
De uma corrente espontânea caracterizada por uma absoluta sensibilidade e pobreza,
os menores se converteram, com o passar dos anos, mantendo a preocupação de não
renegar as pegadas primitivas impressas por Francisco, numa corporação de
doutos, uma expressão entre as mais importantes da “inteligência” do medievo
ocidental. Nesta transformação, através de nossa análise podemos constatar que,
Antônio foi o pioneiro, contribuindo com toda a riqueza da sua formação
monástica agostiniana e com a preocupação na preparação intelectual dos membros
do que mais tarde ficará conhecido pelos teóricos como “Escola Franciscana.”
[1]
CAEIRO, F. da Gama. Santo Antônio de
Lisboa. Introdução a Obra Antoniana, Lisboa: Casa da Moeda, 1968.
[2] COSTA, João Mário Soalheiro. Cristocentrismo no
pensamento antoniano. In:___.
Congresso Internacional Pensamento e Testemunho: 8º Centenário do Nascimento de
Santo Antônio. Atas... Braga:
Universidade Católica Portuguesa, 1996.
[3]
http/www.mwnsageirosdesantoantonio.com.it.