Santo Antônio prega aos peixes, mais sensíveis que os heréticos.
Escola de Girolamo Tessari, 1518
Escola de Girolamo Tessari, 1518
Esta obra
tem como alicerce, assim como praticamente toda a produção de Antônio, a Bíblia
que, para ele, era a produtora da “verdadeira ciência”, que é comentada nos
sermões tendo como ferramenta principal os escritos dos Santos Padres. Além de ser a base para a construção
do discurso de Antônio, as Sagradas Escrituras foram a fonte de inspiração do teólogo
para a criação de alegorias que elucidaram a necessidade da prática das virtudes
que se constituíam, para ele, de suma importância para o fortalecimento da
Igreja e da salvação.
Com
a incidência e a maneira que o frade utiliza as passagens bíblicas, ao vermos a
estrutura dos Sermões concordamos com Zavalloni,[1]
quando afirma que a linguagem acentuadamente bíblica de Antônio, obedecia a
recomendação de Francisco da necessidade de manter-se vivo nos discípulos o
espírito de oração e de devoção.
O sermão,
nos tempos de Antônio, é um gênero literário bastante usado. Inclui-se neste gênero
o castigatio clericorum que reflete
as severas proibições dirigidas ao clero, e que são muito freqüentes na obra de
Antônio. No sermão escrito, a castigatio tinha
como fim pastoral tanto a formação do clero, para que os estudantes escapassem
dos vícios, como à correção dos clérigos em idade madura, já que os Sermões, ao
ser material de estudo, podiam passar pelas mãos de qualquer categoria de
clérigos, desde os de funções mais humildes até os de grande responsabilidade,
ou seja, os prelados.[2]
Dentro do
aspecto literário dos Sermões, temos ainda as exposições doutrinais, o modo de
se expressar de Antônio, os comentários escriturais, as anedotas, as orações
conclusivas, o discurso direto com o leitor, as fórmulas introdutórias e a
língua latina.[3]
O próprio
frade demonstra ser um grande conhecedor do aspecto literário do Sermão, quando
desaprova a conduta dos melindrosos,
que mesmo lendo muito, jamais chegam à verdadeira ciência. Antônio diz que:
“retira de um livro o que lhe faz falta e coloca-o na colméia de tua memória”[4].
Em seus
Sermões Antônio fala da fé e dos bons costumes. O frade ensina a pastoral aos
pregadores: como devem ensinar aos fiéis a doutrina do evangelho, como devem
administrar os sacramentos, sobre tudo a penitência e a eucaristia. Ao fazer
isto, recorre a ordem, a persuasão, ao ensinamento e também a uma forte
repreensão. Com freqüência uniu o ensino a repreensão. Primeiro ensina quais
devem ser os costumes dos sacerdotes e dos prelados, por tanto expõe quais são
estes na realidade e depois questiona àqueles que mesmo conhecedores dos erros
cometidos continuam a praticar tais mazelas. Desta forma, sempre depois da
exposição dos deveres, segue a desaprovação dos vícios. Não podemos precisar se
Antônio se referia a fatos ou a pessoas isoladas, porém, o que podemos
constatar é que suas palavras são severas e precisas.
Em muitas
oportunidades, Antônio se dirige diretamente aos leitores e ouvintes, tentando
persuadi-los, uma vez que esta obra é oferecida aos pregadores. Um bom exemplo
está no primeiro Sermão do segundo Domingo da Quaresma, em sua segunda parte do
número cinco “Aqui a escada está posta. Então, por que não sobem? Por que
continuam?...”.
Com certa
freqüência Antônio trata de assuntos relacionados à sociedade civil e à eclesiástica.
Na sociedade civil existe uma distinção veemente das diferentes classes de pessoas:
estão o imperador, o rei, os militares, os burgueses ou cidadãos; estão os
maiores e os menores, os ricos poderosos e os pobres; estão os mercadores,
legistas ou decretistas.
Santo Antônio, Ambrose Benson, catedral de Segovia
Na Igreja
aparecem os prelados e seus súditos, ou seja, os bispos e seus fiéis; os justos,
ou seja, os fiéis praticantes, os hereges e os cismáticos; os falsos cristãos e
os simoníacos. Junto aos fiéis se encontram depois os sarracenos e os judeus.
Os fiéis eram segundo sua forma de vida: eremitas, monásticos, penitentes; ou:
clérigos, religiosos e seculares. Os fiéis, enquanto penitentes, ou seja,
seculares e em razão da vida que praticavam eram: contemplativos, pregadores ou
de vida ativa.
O franciscano
formula juízos sobre estas duas sociedades, a civil e a eclesiástica, porém
sempre em relação com os costumes, e seu juízo sobre a situação do seu tempo é
de severa condenação: “os costumes são depravados!,”[5]
tanto entre os maiores como entre os menores, na sociedade civil, tanto entre
os clérigos como entre os laicos, na Igreja; tanto entre os clérigos como entre
os religiosos, em suma em toda a sociedade eclesiástica.
[1] ZAVALLONI, Roberto. Op.
cit.
[2]
MARQUES, Bernardino Fernando da Costa. O Prólogo aos Sermões Dominicais de
Santo Antônio de Lisboa. In: AAVV. Congresso Internacional Pensamento e
testemunho. Atas.... Braga: UCP/FFP,
1996. P. 477-484
[3]
Idem.
[4] MACEDO, Jorge Borges de. Os Sermões de Santo Antônio. Porto:
Lello & Irmão, 1983.
[5] Idem.
Amei professor,parabéns!
ResponderExcluirQue bom que gostou! Importante ter você aqui! Muito obrigado e continue me acompanhando! Paz e bem!
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