São Francisco

domingo, 6 de outubro de 2013

Sermões: A Obra Antoniana (1ª Parte)


Os Sermões Dominicais e Festivos são uma obra composta de duas partes distintas, a primeira os Sermões Dominicais somam 53 sermões e foram escritos em Pádua durante o triênio em que frei Antônio foi Ministro Provincial do norte da Itália (1227 – 1230). A estes estão agregados mais quatro sermões para as festas marianas, que estão colocados logo após o sermão para o décimo segundo domingo depois de Pentecostes. A partir do fim de 1230, o frade iniciou a confecção dos sermões festivos que foram escritos até o agravamento de sua doença que o levou ao encerramento de sua vida em 1231. Segundo o site www.mensageirosdesantoantonio.com.it, Antônio escreveu estes sermões a partir das ordens de Rainaldo de Jenne, Cardeal de Óstia, que viria a se tornar o papa Alessandro IV. Contudo sua saúde só o permitiu escrever vinte sermões, indo até a festa de São Paulo, que ocorre no dia 30 de junho.
Além do pedido do Cardeal, frei Antônio nos informa no Prólogo da sua obra que fora esta produzida “para a honra de Deus, edificação das almas e consolação tanto dos leitores como dos ouvintes, e que a tal fora compelido pelos rogos e caridade dos seus confrades”.
Com a autorização de Francisco para o ensino de Teologia na Ordem e a criação entre o ano de 1223 e 1224 da escola de teologia dos menores em Bolonha, Antônio passou a ser o protagonista da maior evolução intelectual da Ordem dos frades menores,[1] que deixaram de ser simples pregadores itinerantes que repetiam versículos e impressionavam pelo exemplo, uma vez que andavam maltrapilhos e a mercê das intempéries, passando a ser grandes pregadores e destacados intelectuais.
Os Sermões antonianos não foram exatamente escritos da maneira como eram proferidos à população[2], na verdade estes sermões eram a continuidade das aulas que o frade ministrava aos novos freis pregadores para torná-los oradores sacros mais eficientes em sua missão tratando-se também, segundo Francisco da Gama Caeiro, em alguns casos, de resumos de pregações feitas aos fiéis[3].
Para Roberto Zavalloni[4] Antônio era um mestre da Escolástica e contribuiu para o crescimento de tal ciência. O teórico justifica esta afirmação assegurando que os Sermões em alguns trechos seguem o método positivo especulativo de Pedro Lombardo considerado mestre da primeira fase da Escolástica. Porém o que constatamos é que Antônio não faz parte do grupo de grandes luminares desta escola, porém ele é um dos preparadores deste período através do ensino do método que viria a ser o dominante na teologia medieval. Assim como Zavalloni Caeiro afirma que os Sermões possuem dois aspectos, o escolástico e o pastoral.
Assim como os dois autores citados, acreditamos que a obra antoniana possui este viés escolástico, já que refletia o método usado no ensino e na formação dos freis, ensino este baseado no mistério dos sacramentos e da pregação que depois seus alunos exerceriam entre os fiéis. Pastoral porque exigia uma pregação próxima aos fiéis, isto é nas ruas e praças, em todos os lugares e não somente dentro das Igrejas e Catedrais.
Ao elaborar seus Sermões, Antônio segue uma determinada ordem. Primeiro expõe o texto sagrado, normalmente extraído da liturgia da palavra obedecendo ao ciclo temporal ou a festividade celebrada, segundo o sentido literal e as diferentes aplicações espirituais: alegórica, moral e mística. Que de acordo com Fernando da Costa Bernardino Marques, em sua obra O Prólogo aos Sermões Dominicais de Santo Antônio de Lisboa, constitui o tema no sermonário medievo. Em seguida, articula o Sermão propriamente dito, que se compõe do prólogo, da exposição do tema e do epílogo, todo concebido como instrumento para expor a doutrina e exortar aos ouvintes para aplicá-la na vida. Depois segue o uso que se faz da Bíblia na liturgia; oferece a oportunidade de comentar em cada sermão nada menos do que quatro argumentos, tomados da Bíblia: uma narração do Antigo Testamento proposta pelo oficio divino, o intróito, a epístola e o Evangelho tomados da missa dominical. Desta maneira, no transcurso de um ano, tratava-se de praticamente toda a Sagrada Escritura.[5]





[1] HARDICK, Lothar. Santo Antônio: Vida e Doutrina. Petrópolis: Vozes, 1991.
[2] CAEIRO, F. da Gama. Santo Antônio de Lisboa. Introdução a Obra Antoniana, Lisboa: Casa da Moeda, 1968.
[3] Idem.
[4] ZAVALLONI, Roberto. Pedagogia Franciscana: Desenvolvimentos e Perspectivas. Petrópolis: Vozes, 1995.
[5] CAEIRO, F. da Gama. Op. cit.

Nenhum comentário:

Postar um comentário