Como já foi exposto nesta monografia,
Frei Antônio de Pádua/Lisboa tornou-se uma das figuras mais importantes da
então nascente ordem franciscana. Este português possuía formação intelectual
toda pautada no itinerário evangélico agostiniano, devido sua passagem pelos
mosteiros agostinianos de São Vicente de Fora e no mais importante de Portugal,
o de Santa Cruz de Coimbra. Por causa de sua grande bagagem intelectual, que
foi evidenciada a partir de sua missão de combate as heresias, foi reconhecido
pelo próprio Francisco de Assis que o nomeou e o transformou, através da carta
que já foi colocada em capítulo anterior, no primeiro mestre de teologia da
então nascente Escola Franciscana.
Esta carta
é o documento que informa que a notoriedade de excelente pregador, que é
imputada a Antônio, já havia chegado naquele momento ao conhecimento do
fundador dos menores. Mas o que, além disso, chama a atenção em tal documento,
é que ele foi um marco na trajetória da Ordem, pois, até então, os frades
pregavam através do exemplo e, na maioria dos casos, com um conhecimento
rudimentar das Sagradas Escrituras. Com esta nomeação feita por Francisco,
Antônio tornou-se uma figura central nesta nova etapa que os franciscanos
passariam a viver.
O que
Francisco, até então temeroso com o ensino de Teologia na ordem, viu neste novo
frade? As hagiografias do sacerdote português, servem-nos para sanar estas
dúvidas. Pois fica claro que se sua importância como pregador chegou até
Francisco, sua notoriedade como homem humilde e vivedor da Pobreza, principal
característica do ideário franciscano e que, para o fundador, era considerado
essencial para o alcance das Virtudes de Deus, deve ter chegado junto.
A partir
desta autorização, Antônio, que já era sacerdote e pregava para combater os
cátaros no Sul da França e Norte da Itália, passou a ensinar a teologia e criou
vários centros de ensino teológico franciscanos.
Utilizando
todo o conhecimento adquirido no Estabelecimento de Ensino dos Agostinianos, o
frei também escreveu a sua obra Sermões,
que é, como colocado no capítulo em que tratamos da estrutura de tal obra, uma
compilação de vários sermões e que, segundo o próprio autor, foi realizada
“para a honra de Deus, edificação das almas e consolação tanto dos leitores
como dos ouvintes, e que a tal fora compelido pelos rogos e caridade dos seus
confrades”[1],e
para satisfazer um desejo de seus próprios alunos, que o pediam para redigir
uma espécie de manual para preparação de pregadores.
Antônio
nesta obra, acaba por traçar um modelo de religioso que é uma compilação de
seus ensinamentos de cônego regrante em Portugal, somado à sua releitura dos
cânones de Latrão IV adicionando, ainda, as suas experiências de pregador no
combate aos cátaros.
O
que fica mais marcado para nós é a sua preocupação com a linguagem utilizada,
uma vez que o frade faz uso de uma linguagem espiritualizante, colocando como
pena maior das transgressões o inferno, ou seja, a “desgraça eterna”. Isto é
uma constatação que nos faz acreditar em uma preocupação de Antônio em relação
ao impacto destas pregações, que serviriam de modelo aos pregadores que
rumassem ao combate as heresias, não só aos ouvintes, mas também para os
religiosos que utilizassem a sua obra.
A
grande diferença entre os dois documentos utilizados em nossa monografia é que
os Canônes são de cunho jurídico, enquanto os Sermões é uma obra de cunho
literário, que tem como principal objetivo a orientação e formação dos
sacerdotes que estão vivendo um novo momento da Igreja.
Para
nós, a obra de Antônio é uma releitura das decisões e anseios da Santa Sé em relação
aos destinos da Igreja. Todos os movimentos de contestação e toda a inquietação
que a instituição em questão sofre no século XIII, também têm sua parcela de
participação na criação de Antônio de Lisboa/Pádua.
A
análise aqui apresentada da vida e da obra de Antônio foi a busca do pensamento
da Igreja no século XIII, uma vez que esta se utilizou do pensamento de Antônio
como um grande arauto do Evangelho, onde quer que ele fosse pregar contra as
heresias. Para nós, nas entrelinhas da obra antoniana, podemos encontrar o
itinerário que a Santa Sé desejava que seus religiosos e seus fiéis seguissem a
partir de Latrão. Apesar de não ser um tratado teológico, os Sermões são um
tratado moral que nos fez observar quais eram as preocupações que a Igreja
possuía em relação a observação da moral cristã.
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