Antônio nasceu em Lisboa entre1190 e 1195. Sua data de
nascimento é imprecisa, uma vez que os seus biógrafos não possuem consenso,
quanto ao ano de nascimento do frade. Alguns seguem a Frei Marcos de Lisboa,[1] que escreveu as Crônicas da Ordem dos frades menores, e afirma que o ano de seu nascimento foi 1195, hipótese esta
baseada na informação do Livro dos
Milagres (Liber miraculorum),[2] surgido apenas entre 1367 e 1374, no
qual é registrada a morte do frade como ocorrida em 13 de junho de 1231, com 36
anos de idade. Biógrafos mais contemporâneos, como Virgílio Gamboso, afirmam, a
partir de exames médicos-antropológicos dos restos mortais do religioso,
realizados em 1981, que o mesmo morreu com aproximadamente 40 anos de idade, o
que traz uma nova data de nascimento o ano de 1190.[3]
Nos tempos de
Fernando não havia uma preocupação a respeito dos sobrenomes, mas muitas de
suas hagiografias afirmam que ele descendia de Geraldo de Bulhões, chefe da
primeira cruzada do século XI, o que, na verdade, segundo Lothar Hardick[4], vem de uma preocupação corrente nas
hagiografias medievais de ligar o nome do santo a famílias nobres. Somente na Legenda Beniguitas do século XVI aparece
o nome de seu pai como Martim, o que Ildefonso Silveira[5] aponta como fator primordial para
chamarmos o Frade Fernando de Martim ou Martins e não como Fernando de Bulhões,
opondo-se a posição de Roberto Ruiz[6] e Lothar Hardick[7], que afirmam que Fernando teve como
nome de batismo o segundo, uma vez que seu pai se chamava Martinho Bulhões e
sua mãe Maria Taveira.
O frade iniciou
sua preparação intelectual na escola criada junto a catedral da Sé de Lisboa,
onde ingressou entre os anos de 1202 e 1203. Tal estabelecimento de ensino foi
fundado após a organização da Igreja lisboeta pelo seu primeiro bispo, o inglês
Gilberto de Hastings. Ali permaneceu por mais ou menos seis anos. Segundo
Francisco da Gama Caeiro, pouco se sabe sobre tal instituição de ensino no
período que Fernando Martins a freqüentou. Desta forma, seguindo ainda o pensamento
de Caeiro, iremos procurar uma aproximação da sua história a partir de
comparações que ele faz com outras escolas da época e com documentos conciliares.[8]
As escolas
episcopais nasceram da necessidade da valorização espiritual do clero e da preocupação
da Igreja com o preparo intelectual destes a fim de atenderem as novas
exigências do mundo cristão, principalmente a partir da segunda metade do
século XII. Neste momento entendia-se que a Igreja não podia descuidar-se da
cultura dos religiosos, pois o magistério eclesiástico dependia desta
preparação. Caeiro constata em sua obra que esta necessidade era tão grande que
o Concílio Lateranense I resolveu tornar obrigatória a existência de um
mestre-escola, para ensinar gratuitamente os clérigos e alunos pobres, nas
igrejas-catedrais.[9]
Segundo a Legenda
Prima ou Assídua, Fernando Martins foi instruído
nas Letras Sagradas pelos sacerdotes que lecionavam na Sé de Lisboa, mas nada nos esclarece sobre as
disciplinas estudadas em tal escola.[10]Para Caeiro as diretrizes pedagógicas
deste modelo de estabelecimento docente, principalmente na primeira metade do
século XIII, seguiam algumas instruções de obras lógicas como Didascaliou, de Hugo de São Vitor, Metalogicom, de João de Salisbory, e o Eptateuco, de Thierry de Chartres, que
facultaram regras para o ensino em tais escolas, oferecendo um quatro teórico,
comumente aceito, que era fundamentado no Trivium
e Quadrivium.[11]
Nesta escola,
portanto, certamente Fernando Martins aprendeu a ler e a escrever, recebendo
ali uma instrução religiosa bastante completa. Aprendeu a língua latina,
através não somente do Saltério, mas, também, de alguns clássicos latinos e dos
Padres da Igreja[12], ao menos em partes pequenas ou
coletâneas, que estavam ao alcance dos mestres.
Entre as
disciplinas laicas, a Gramática era a primeira e fundamenta, constituindo o
inicio do trivium, que certamente era
lecionado na escola da Sé lisboeta. A Lectio,
ensino oral baseado na leitura de um texto, era um elemento pedagógico
fundamental, justificando o apreço dado à memória no período medieval, ainda
mais quando, dentro do ensino da Gramática, os manuscritos eram difíceis e de
aquisição dificultosa. A faculdade da memória era tão valorizada em tal período
que Fernando Martins, dono de um grande poder de memorização, foi louvado até
pelo papa Gregório IX, que o chamou de Arca
do Testamento.[13]
Além
das disciplinas já citadas até aqui, a escola da Sé de Lisboa, segundo
suposição de Caeiro, ministrava a Dialética (Lógica), a Retórica, os rudimentos
de Música e de Contas (Cômputo). Esta suposição vem da exigência destas
disciplinas para a execução das muitas tarefas eclesiásticas.
Segundo a Legenda Prima, Fernando Martins saiu da
escola da Sé instruído nas Escrituras Sagradas. Caeiro, porém, nos informa que
é complicado afirmar qual foi a influência do ensinamento de tal instituição no
edifício cultural apresentado por Fernando Martins como pregador e intelectual,
porém alguns destes traços certamente perduraram em sua trajetória.[14]
Após este primeiro
período de estudos, era comum que os alunos fossem freqüentar as aulas de Artes
nas Universidades. Porém, ainda não havia tais instituições em solos
portugueses. Os mosteiros eram, então, centros atrativos aos jovens que
buscavam a cultura e um melhor aperfeiçoamento espiritual.
Fernando Martins
ingressou no Mosteiro de São Vicente de Fora, localizado nas cercanias de
Lisboa, que era o mais antigo de Portugal, motivo pelo qual recebia grande
proteção dos reis e isenções papais. Provavelmente seu ingresso data entre 1210
e 1211, quando deve ter passado por uma seleção bem rigorosa, já que Francisco
da Gama Caeiro afirma que os cônegos regrantes de Santo Agostinho, responsáveis
pela instituição, eram bem cuidadosos com os assuntos espirituais.[15]
Em São Vicente o
frade português professou na Ordem dos Cônegos de Regrantes de Santo Agostinho,
após um ano de estudos. Sua preparação para a admissão definitiva entre os Cônegos
Regrantes passou pelo aprendizado da Regra de Santo Agostinho, realizado com o
intuito de aprofundar os ensinamentos espirituais e práticos para a vida no
mosteiro.
Esta Regra tem
como primeira e máxima exigência a cultura de uma perfeita comunhão espiritual
de riquezas, à maneira das primitivas comunidades cristãs de Jerusalém, segundo
o exemplo dos apóstolos. Dentre as virtudes obrigatórias para os cônegos
estavam a obediência, a humildade[16] e a caridade. A leitura possuía uma
grande importância para a Regra, sendo vista como um momento fundamental na
rotina do mosteiro. Esta Regra possuía uma versão acrescida de comentários de Hugo
de São Vitor, nos quais o crítico afirmava que a leitura era constituída pela Lectio Divina e as observações dos
Santos Padres, além da própria Regra.
A Regra era lida
semanalmente aos cônegos, além de constituir objeto especial de estudo para os
noviços dirigidos por um mestre, o chamado mestre da escola dos noviços. Em sua
primeira fase de estudos, ocorrida em São Vicente de Fora, Fernando Martins
começou a dar importância a Regra e a doutrina do Bispo de Hipona.
A espiritualidade
antoniana foi fortemente marcada pela teologia agostiniana dos cônegos
regrantes, e firmou-se não só a partir da Regra, mas também, indiretamente,
pelas constituições do mosteiro, que nela se inspiravam.
Caeiro afirma em
sua obra que foram encontrados dois importantes inventários que retratam a vida
intelectual do mosteiro em questão, um de meados do século XIII, da canônica
lisboense e outro uma relação de manuscritos cedidos, talvez para serem
copiados, em 1207, 1216 e 1226, de algumas obras que chegaram a São Vicente de
Fora.[17] Ao aproximar os dois inventários,
Caeiro oferece uma visão complementar de grande valor, pois revela, por um
lado, o interesse em São Vicente de Fora pela teologia, pela patrística, pela
espiritualidade monástica, pelos escritos morais e litúrgicos, e, por outro
lado, curiosidade pelas obras científicas, nomeadamente as de medicina.
Não se sabe muito
sobre os mestres que orientaram Fernando Martins no conhecimento da Regra e nos
demais estudos que visavam a sua formação e aperfeiçoamento como cônego
regrante. Porém, Caeiro supõe que tal função foi exercida por D. Pedro Pires,
cônego de eminente posição científica e social, que foi mestre de teologia em
São Vicente e contribuiu, certamente, de maneira efetiva para a formação
cultural recebida no período em que o frade por lá passou.[18]
Segundo alguns
autores, tais como Lothar Hardick[19], Caeiro[20] e Roberto Ruiz[21], a convivência de Fernando em São
Vicente tornou-se difícil, uma vez que sua família e pessoas próximas realizavam-lhe
muitas visitas, o que interrompia constantemente a sua busca de paz interior
através do isolamento e da meditação. Desta forma, Fernando pediu a seus
superiores que o transferissem para Santa Cruz de Coimbra, para que pudesse
alcançar um maior grau de espiritualidade.
Reconhecidamente
considerado a casa mãe dos cônegos regrantes em Portugal, Santa Cruz era,
segundo Maria Helena da Cruz Coelho,[22] “o bastião
ideológico, cultural e espiritual do primeiro monarca português”, D. Afonso
Henriques, que a ela doou terras, Igrejas, concedeu direitos, privilégios e
jurisdições. Ali também foram enterrados D. Afonso e D. Sancho I, os primeiros
reis portugueses, o que faz desse cenóbio o panteão real.
Em Coimbra,
Fernando Martins pôde ter maior contato com a história e a presença de grandes
religiosos portugueses, porém, além dos ares de santidade, o mosteiro podia
proporcionar-lhe uma grande possibilidade de crescimento intelectual, uma vez
que muitos cônegos, que ali viveram e viviam, haviam cursado a Universidade de
Paris. Os mestres do mosteiro tinham a sua formação pautada, principalmente, em
dois tipos de textos, as chamadas Sumas,
as glosas à Bíblia e as Sentenças de
Pedro Lombardo. O estudo das Sagradas Escrituras era realizado a partir do
método agostiniano que tinha como base dois prismas: o da análise literal ou
histórica e a espiritual ou figurada.
Além desta
experiência com os mestres coimbrãos, Fernando foi influenciado também pela máxima perusina[23] de que a Bíblia seria o principio e o
fim de todos os estudos teológicos, o que nos Sermões antonianos é traduzido para a plenitude de toda a ciência,
a única que vale a pena e que faz sábios.
De mais a mais, o
mosteiro possuía uma biblioteca, com bom suporte em material para o estudo, e
também um scriptorium. Em sua obra,
Caeiro nos chama a atenção para o fato de que este contava com vários escribas,
que tinham como missão transcreverem aquelas obras que chegavam para Santa Cruz
através de permutas e empréstimos. Segundo este autor, podemos afirmar que Fernando
obteve contato, na biblioteca de Coimbra, com obras de Hugo e Ricardo de São
Vitor, Agostinho, Gregório, Jerônimo, Isidoro, Pedro Comestor, Flávio Josefo,
Aristóteles e Virgílio.[24] Sendo Assim podemos concluir que a
obra de Fernando foi fortemente marcado por este clima cultural de Santa Cruz,
uma vez que é toda ponteada por citações destes autores e tem como fonte vital
a Bíblia.
Segundo Roberto
Ruiz,[25] apesar do impedimento, por parte da
Santa Sé, da ordenação sacerdotal de menores de trinta anos, Fernando foi
ordenado sacerdote em Coimbra, onde também atuou como clérigo até a sua ida
para a Ordem dos Frades Menores.
Porém, apesar da
ordenação e do alto grau intelectual adquirido em Coimbra, Fernando, segundo
Caeiro[26] e Roberto Ruiz[27], decepcionou-se com o ambiente do
mosteiro, pois não pôde colocar em prática todos os ensinamentos armazenados
através de seus estudos, uma vez que, ele acreditava, tal estabelecimento
estava contaminado por idéias e práticas, tais como o nicolaismo e simonia, que
não se coadunavam a vida religiosa. Caeiro cita os teóricos Alexandre
Herculano, Carlos Giroud e Antônio Vasconcelos para confirmar que as riquezas
doadas ao mosteiro pelos monarcas portugueses desvirtuaram o modo de vida dos
agostinianos.[28]
Roberto Ruiz[29] relata, baseado no historiador Jorge
Ameal, que ao serem privilegiados por benesses reais e presenteados por muitos
burgueses ricos, os cônegos regrantes passaram a dar mais valor as “coisas
terrenas” que as “virtudes cristãs”.
Contemporaneamente
a esta desilusão de Fernando, chegaram a Portugal os primeiros franciscanos,
apadrinhados pela rainha D. Urraca, por volta de 1219. Segundo Caeiro, muitas
vezes estes frades maltrapilhos iam até Santa Cruz para conseguir esmolas,[30] que possivelmente causaram em Fernando
um certo espanto, uma vez que esta pobreza contrastava com a riqueza da casa
dos cônegos.
Fernando, após o
pequeno convívio com os primeiros mártires franciscanos, que antes de sua
viagem ao Marrocos, local onde ocorreu o martírio, foram a Portugal, ao
defrontar-se com seus restos mortais, que voltaram para serem enterrados na
Catedral de Santa Cruz, notou, que esta forma de viver a fé estava muito distante
da realidade encontrada em sua comunidade e ficou maravilhado com o novo modo
de vida oferecido pela Ordem dos Frades Menores e pela possibilidade de pregar
aos sarracenos e ser martirizado. A ida ao Marrocos é para Antônio a principal
motivação para a sua saída da ordem dos Cônegos Regrantes de Santo Agostinho e
sua entrada para os franciscanos, momento que adota o nome de Antônio.
Francisco da Gama Caeiro,[31] escreve que este foi influenciado por
três principais aspectos da vida dos frades menores. Primeiro, o estilo de
vida, que era totalmente voltado para a pobreza evangélica procurando imitar o
Cristo nu. Segundo, o modo de pregação, que tinha como principal característica
a ida ao encontro das almas, modo diferente do apostolado da ordem dos Cônegos
Agostinianos, que ocupavam paróquias determinadas. Por último, a pregação aos
muçulmanos que, indiretamente, poderia ocasionar o martírio.[32]
Esta
característica, a pregação aos infiéis, é tão forte no ideário franciscano que
foi citada na Regra Não-Bulada,[33] que ficou pronta, em 1221, e é um
misto de Regra e “diretório espiritual”, pois contém muitas orientações de
cunho espiritual e não jurídicos, e foi apresentada aos irmãos no Capítulo de
Pentecostes de 1221.
Antônio
embarcou para o Marrocos, e chegando lá, ficou doente, o que o impediu de
realizar o seu sonho de pregar aos Sarracenos. Após sua tentativa frustrada de
martírio, Antônio participou do Capítulo de 1221, no qual foi designado para
trabalhar no Eremitério de Monte Paolo em Forli. Este local realmente tornou-se
importante na vida franciscana de Antônio, pois aí ele passou a ser notado como
exímio pregador e conhecedor das Escrituras Sagradas. Antônio foi indicado, por
seu superior, a proferir uma pregação repentina em uma data festiva. Até então
ele tinha apenas ministrado os sacramentos, uma vez que era sacerdote, e
trabalhava como ajudante de cozinha. O seu discurso de improviso foi tão bem
construído que maravilhou a todos. A partir daí Antônio foi colocado na linha
de frente da batalha contra as heresias que assolavam a região da România, onde
iniciou, desta forma, sua missão de pregador. Falava com o povo, partilhava a
existência humilde e angustiante, alternando o trabalho da catequese com a obra
pacificadora; ensinava teologia a seus irmãos franciscanos, fazia confissões,
debatia em público com os hereges. Desta forma, sua fama chegou até os ouvidos
de Francisco que, neste momento, o indicou como mestre de teologia da ordem
através da seguinte carta:
A frei
Antônio, meu bispo, saúda frei Francisco e augura saúde. Apraz-me que ensine
teologia aos nossos frades, sob a condição, porém que por causa de tal estudo,
não se extinga neles o espírito da santa oração e devoção, como é prescrito na
Regra. Passa bem.
Com esta carta, escrita em 1224,[34] Antônio recebe de Francisco de Assis a
autorização para ensinar teologia na Ordem Franciscana, fato este importante,
pois até então o fundador era reticente a tal prática.
É muito importante, para a compreensão do papel que Antônio
passou a ocupar dentro da estrutura da ordem, a lembrança de que ele não
pertencia ao grupo mais próximo a Francisco. Mesmo assim, Antônio foi lembrado
no capítulo 48 da Vida I de Tomás de Celano, que foi o primeiro biógrafo de
Francisco, e redigiu esta obra em 1228, por ordem do Papa Gregório IX, como
aquele que “o Senhor abrira a
inteligência para compreender as escrituras, e que falava do Senhor a todo o
povo com palavras mais doces que o mel e o favo”.[35]
A partir da incumbência dada a ele por Francisco, Antônio
criou alguns centros de estudo para os franciscanos, como Bolonha, o primeiro
deles, nos quais as aulas eram marcadas pelo “...espírito de pobreza e humildade.” Em Bolonha, Antônio ensinou
teologia a clérigos e leigos partindo do texto bíblico, interpretando e falando
da fé para os ouvintes.
Este espírito que
Francisco cita na Carta a Antônio, condiciona o magistério exercido por ele,
tanto no conteúdo quanto na forma. Assim, sua forma de ensinar estará baseada
em sermões. Em seu ministério teológico, Antônio conjugou vários elementos que
vão dar seu toque particular: sua formação teológica de cunho agostiniano; sua
forma de ensinamento calcado no estudo, na meditação e na contemplação da
Sagrada Escritura, segundo a tradição dos Santos Padres; e a idéia de junção da
ciência com a unção contemplativa, segundo a orientação de Francisco de Assis.
Após sua saída de
Bolonha, Antônio passou por Provença, Languedoc, Limoges e Berry. Esta área
meridional da França passava por um momento de muitos conflitos, ocasionados
por lutas políticas e sociais entre católicos e albigenses, que tinham sua
doutrina já arraigada nesta região. O Papado, aliado ao poder temporal,
combatia a heresia. Porém, a luta se estendeu por vinte anos sem nenhum
resultado.
Diante deste fracasso do uso da força, o papa Honório III
exortou aos professores de teologia de Paris a dirigirem-se para trabalhar
junto aos albigenses. Antônio foi enviado com outros frades, como reforço
qualificado, para apoiar os residentes na região no trabalho de evangelização e
para cumprir os encargos atribuídos aos irmãos pela direção da Ordem cedendo a
pressão da Cúria papal.
Antônio passa então a ensinar e pregar teologia em
Montpellier, importante centro universitário e ponto forte da ortodoxia
católica, onde dominicanos e franciscanos recebiam adequada formação pastoral e
intelectual a fim de pregarem contra a heresia que se espalhava nos territórios
adjacentes.
Após a estada em Montpellier, Antônio fixou-se em Toulouse,
onde continuou seu trabalho docente. Porém, em 1226, ele mudou-se para Limoges
que, na história de Antônio, tem um papel importantíssimo, já que ali lhe foi
dado o encargo de Guardião dos Franciscanos da cidade e dos arredores.
Alguns hagiógrafos fixam a data de retorno de Antônio a
Itália durante o Capítulo Geral que aconteceu em Pentecostes de 1227, quando
foi indicado para a região de Pádua.
Com o entendimento do modo de pregação e do magistério de
Antônio, podemos reconhecê-lo como mestre franciscano, pois, com sua vida e
palavra, sua doutrina e escritos, sua espiritualidade e o caminho evangélico de
sua existência, ele reveste de ciência e oratória a pregação simples e popular
de Francisco. Como precursor da Escola Franciscana, ele tornou-se um elo de
ligação entre a velha tradição agostiniana e tal Escola. Antônio influencia,
através de sua doutrina, propagada tanto por suas obras, pregações e aulas, as
gerações de franciscanos seguintes, como fica comprovado nas obras de
Boaventura, Bernardino de Sena, Jaime da Marca e Scoto.
Antônio trouxe para o seio da Ordem Franciscana toda uma
bagagem intelectual baseada no conteúdo dogmático e moral dos escritos dos
Padres da Igreja. Conhecimento que tinha sua base central no pensamento de
Agostinho. O frade transporta para sua nova comunidade todos os ensinamento
que, talvez, ele acreditasse serem essenciais para a vivência religiosa plena.
Esta transformação
cultural trazida ao interior da Ordem pelo ministério teológico de Antônio, foi
importante para a libertação dos franciscanos do modelo místico implementado em
seu momento inicial no “tipo de civilização que estava se afirmando no mundo, a
Ordem ter-se-ia encontrado fora do jogo e talvez inútil”.[36]
Dentro deste ideal de formar novos pregadores para a ordem,
o frade começou a redigir sua maior obra, os Sermões Dominicais e Festivos. Os Dominicais foram escritos entre
1227 e 1230 e os Festivos redigidos entre o outono e o inverno europeu de
1230-1231. Estes não são exatamente
os que Antônio pregou, sendo, na verdade, um manual para pregadores da ordem e
que poderia ser consultado por leigos cultos e religiosos de outras
instituições. Seus propósitos, nesta obra, são essencialmente religiosos ou
morais, são a tentativa de por a disposição dos frades um elemento de trabalho
apostólico. Consistem, então, em um guia prático que, ao mesmo tempo, é uma
compilação teórica e doutrinária, contendo dicas de um mestre experiente no
ofício da pregação. Caeiro constata, ao analisar os Sermões, que Antônio possuiu uma intelectualidade marcante e uma cultura teológica sólida e que para ele a
verdadeira ciência era a Sagrada Escritura, donde extrai grande parte de sua
doutrina.
[1]
RUIZ, Roberto. Antônio um Santo que falava
português. Petrópolis: Vozes, 1995
[2]
MACEDO, Jorge Borges de. Os Sermões de
Santo Antônio. Porto: Lello & Irmão, 1983.
[3]
HARDICK, Lothar. Santo Antônio: Vida e
Doutrina. Petrópolis: Vozes,1991
[4] Idem.
[5].
Idem
[8]
CAEIRO, F. da Gama. Santo Antônio de
Lisboa. Introdução a Obra Antoniana, Lisboa: Casa da Moeda, 1968
[9]
Idem..
[10]
Idem.
[11]
Idem.
[12]
Idem.
[13]
Idem
[14]
Idem
[15]
Idem.
[16]
A humildade desempenhará, mais tarde, na concepção da mística especulativa
antoniana, um papel essencial.
[17]
CAEIRO, F. da Gama. Op cit..
[18]
Idem.
[19]
HARDICK, Lothar. Op cit
[20]
CAEIRO, F. da Gama. Op. cit.
[21]
RUIZ, Roberto. Op. cit..
[22]
COELHO, Maria H. da Cruz. Santo Antônio de Lisboa em Santa Cruz de Coimbra. In: AAVV. Congresso Internacional
Pensamento e Testemunho. Atas...
Braga: UCP/FFP, 1996. P. 179-205.
[23]
CAEIRO, F. da Gama. Op cit..
[24]
Idem.
[25]
RUIZ, Roberto. Op. cit..
[26]
CAEIRO, F. da Gama. Op cit..
[27]
RUIZ, Roberto. Op. cit..
[28]
Idem.
[29]
RUIZ, Roberto. Op cit
[30]
CAEIRO, F. da Gama. Op cit
[31]
Idem.
[32]
Idem.
[33]
SILVEIRA, I. REIS, O. (org.). São
Francisco de Assis. Escritos e Biografias de São Francisco de Assis. Crônicas e
outros testemunhos do Primeiro século franciscano. 8. ed. Petrópolis:
Vozes, 1997.
[34]
Idem.
[35]
Idem.
[36]
ZAVALLONI, Roberto. Pedagogia
Franciscana: Desenvolvimentos e Perspectivas. Petrópolis: Vozes, 1995.
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