São Francisco

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Quem foi Antônio de Lisboa/Pádua?


Antônio nasceu em Lisboa entre1190 e 1195. Sua data de nascimento é imprecisa, uma vez que os seus biógrafos não possuem consenso, quanto ao ano de nascimento do frade. Alguns seguem a Frei Marcos de Lisboa,[1] que escreveu as Crônicas da Ordem dos frades menores, e afirma que o ano de seu nascimento foi 1195, hipótese esta baseada na informação do Livro dos Milagres (Liber miraculorum),[2] surgido apenas entre 1367 e 1374, no qual é registrada a morte do frade como ocorrida em 13 de junho de 1231, com 36 anos de idade. Biógrafos mais contemporâneos, como Virgílio Gamboso, afirmam, a partir de exames médicos-antropológicos dos restos mortais do religioso, realizados em 1981, que o mesmo morreu com aproximadamente 40 anos de idade, o que traz uma nova data de nascimento o ano de 1190.[3]
Nos tempos de Fernando não havia uma preocupação a respeito dos sobrenomes, mas muitas de suas hagiografias afirmam que ele descendia de Geraldo de Bulhões, chefe da primeira cruzada do século XI, o que, na verdade, segundo Lothar Hardick[4], vem de uma preocupação corrente nas hagiografias medievais de ligar o nome do santo a famílias nobres. Somente na Legenda Beniguitas do século XVI aparece o nome de seu pai como Martim, o que Ildefonso Silveira[5] aponta como fator primordial para chamarmos o Frade Fernando de Martim ou Martins e não como Fernando de Bulhões, opondo-se a posição de Roberto Ruiz[6] e Lothar Hardick[7], que afirmam que Fernando teve como nome de batismo o segundo, uma vez que seu pai se chamava Martinho Bulhões e sua mãe Maria Taveira.
O frade iniciou sua preparação intelectual na escola criada junto a catedral da Sé de Lisboa, onde ingressou entre os anos de 1202 e 1203. Tal estabelecimento de ensino foi fundado após a organização da Igreja lisboeta pelo seu primeiro bispo, o inglês Gilberto de Hastings. Ali permaneceu por mais ou menos seis anos. Segundo Francisco da Gama Caeiro, pouco se sabe sobre tal instituição de ensino no período que Fernando Martins a freqüentou. Desta forma, seguindo ainda o pensamento de Caeiro, iremos procurar uma aproximação da sua história a partir de comparações que ele faz com outras escolas da época e com documentos conciliares.[8]
As escolas episcopais nasceram da necessidade da valorização espiritual do clero e da preocupação da Igreja com o preparo intelectual destes a fim de atenderem as novas exigências do mundo cristão, principalmente a partir da segunda metade do século XII. Neste momento entendia-se que a Igreja não podia descuidar-se da cultura dos religiosos, pois o magistério eclesiástico dependia desta preparação. Caeiro constata em sua obra que esta necessidade era tão grande que o Concílio Lateranense I resolveu tornar obrigatória a existência de um mestre-escola, para ensinar gratuitamente os clérigos e alunos pobres, nas igrejas-catedrais.[9]
Segundo a Legenda Prima ou Assídua, Fernando Martins foi instruído nas Letras Sagradas pelos sacerdotes que lecionavam na Sé de Lisboa, mas nada nos esclarece sobre as disciplinas estudadas em tal escola.[10]Para Caeiro as diretrizes pedagógicas deste modelo de estabelecimento docente, principalmente na primeira metade do século XIII, seguiam algumas instruções de obras lógicas como Didascaliou, de Hugo de São Vitor, Metalogicom, de João de Salisbory, e o Eptateuco, de Thierry de Chartres, que facultaram regras para o ensino em tais escolas, oferecendo um quatro teórico, comumente aceito, que era fundamentado no Trivium e Quadrivium.[11]
Nesta escola, portanto, certamente Fernando Martins aprendeu a ler e a escrever, recebendo ali uma instrução religiosa bastante completa. Aprendeu a língua latina, através não somente do Saltério, mas, também, de alguns clássicos latinos e dos Padres da Igreja[12], ao menos em partes pequenas ou coletâneas, que estavam ao alcance dos mestres.
Entre as disciplinas laicas, a Gramática era a primeira e fundamenta, constituindo o inicio do trivium, que certamente era lecionado na escola da Sé lisboeta. A Lectio, ensino oral baseado na leitura de um texto, era um elemento pedagógico fundamental, justificando o apreço dado à memória no período medieval, ainda mais quando, dentro do ensino da Gramática, os manuscritos eram difíceis e de aquisição dificultosa. A faculdade da memória era tão valorizada em tal período que Fernando Martins, dono de um grande poder de memorização, foi louvado até pelo papa Gregório IX, que o chamou de Arca do Testamento.[13]
Além das disciplinas já citadas até aqui, a escola da Sé de Lisboa, segundo suposição de Caeiro, ministrava a Dialética (Lógica), a Retórica, os rudimentos de Música e de Contas (Cômputo). Esta suposição vem da exigência destas disciplinas para a execução das muitas tarefas eclesiásticas.
Segundo a Legenda Prima, Fernando Martins saiu da escola da Sé instruído nas Escrituras Sagradas. Caeiro, porém, nos informa que é complicado afirmar qual foi a influência do ensinamento de tal instituição no edifício cultural apresentado por Fernando Martins como pregador e intelectual, porém alguns destes traços certamente perduraram em sua trajetória.[14]
Após este primeiro período de estudos, era comum que os alunos fossem freqüentar as aulas de Artes nas Universidades. Porém, ainda não havia tais instituições em solos portugueses. Os mosteiros eram, então, centros atrativos aos jovens que buscavam a cultura e um melhor aperfeiçoamento espiritual.
Fernando Martins ingressou no Mosteiro de São Vicente de Fora, localizado nas cercanias de Lisboa, que era o mais antigo de Portugal, motivo pelo qual recebia grande proteção dos reis e isenções papais. Provavelmente seu ingresso data entre 1210 e 1211, quando deve ter passado por uma seleção bem rigorosa, já que Francisco da Gama Caeiro afirma que os cônegos regrantes de Santo Agostinho, responsáveis pela instituição, eram bem cuidadosos com os assuntos espirituais.[15]
Em São Vicente o frade português professou na Ordem dos Cônegos de Regrantes de Santo Agostinho, após um ano de estudos. Sua preparação para a admissão definitiva entre os Cônegos Regrantes passou pelo aprendizado da Regra de Santo Agostinho, realizado com o intuito de aprofundar os ensinamentos espirituais e práticos para a vida no mosteiro.
Esta Regra tem como primeira e máxima exigência a cultura de uma perfeita comunhão espiritual de riquezas, à maneira das primitivas comunidades cristãs de Jerusalém, segundo o exemplo dos apóstolos. Dentre as virtudes obrigatórias para os cônegos estavam a obediência, a humildade[16] e a caridade. A leitura possuía uma grande importância para a Regra, sendo vista como um momento fundamental na rotina do mosteiro. Esta Regra possuía uma versão acrescida de comentários de Hugo de São Vitor, nos quais o crítico afirmava que a leitura era constituída pela Lectio Divina e as observações dos Santos Padres, além da própria Regra.
A Regra era lida semanalmente aos cônegos, além de constituir objeto especial de estudo para os noviços dirigidos por um mestre, o chamado mestre da escola dos noviços. Em sua primeira fase de estudos, ocorrida em São Vicente de Fora, Fernando Martins começou a dar importância a Regra e a doutrina do Bispo de Hipona.
A espiritualidade antoniana foi fortemente marcada pela teologia agostiniana dos cônegos regrantes, e firmou-se não só a partir da Regra, mas também, indiretamente, pelas constituições do mosteiro, que nela se inspiravam.
Caeiro afirma em sua obra que foram encontrados dois importantes inventários que retratam a vida intelectual do mosteiro em questão, um de meados do século XIII, da canônica lisboense e outro uma relação de manuscritos cedidos, talvez para serem copiados, em 1207, 1216 e 1226, de algumas obras que chegaram a São Vicente de Fora.[17] Ao aproximar os dois inventários, Caeiro oferece uma visão complementar de grande valor, pois revela, por um lado, o interesse em São Vicente de Fora pela teologia, pela patrística, pela espiritualidade monástica, pelos escritos morais e litúrgicos, e, por outro lado, curiosidade pelas obras científicas, nomeadamente as de medicina.
Não se sabe muito sobre os mestres que orientaram Fernando Martins no conhecimento da Regra e nos demais estudos que visavam a sua formação e aperfeiçoamento como cônego regrante. Porém, Caeiro supõe que tal função foi exercida por D. Pedro Pires, cônego de eminente posição científica e social, que foi mestre de teologia em São Vicente e contribuiu, certamente, de maneira efetiva para a formação cultural recebida no período em que o frade por lá passou.[18]
Segundo alguns autores, tais como Lothar Hardick[19], Caeiro[20] e Roberto Ruiz[21], a convivência de Fernando em São Vicente tornou-se difícil, uma vez que sua família e pessoas próximas realizavam-lhe muitas visitas, o que interrompia constantemente a sua busca de paz interior através do isolamento e da meditação. Desta forma, Fernando pediu a seus superiores que o transferissem para Santa Cruz de Coimbra, para que pudesse alcançar um maior grau de espiritualidade.
Reconhecidamente considerado a casa mãe dos cônegos regrantes em Portugal, Santa Cruz era, segundo Maria Helena da Cruz Coelho,[22] “o bastião ideológico, cultural e espiritual do primeiro monarca português”, D. Afonso Henriques, que a ela doou terras, Igrejas, concedeu direitos, privilégios e jurisdições. Ali também foram enterrados D. Afonso e D. Sancho I, os primeiros reis portugueses, o que faz desse cenóbio o panteão real.

Em Coimbra, Fernando Martins pôde ter maior contato com a história e a presença de grandes religiosos portugueses, porém, além dos ares de santidade, o mosteiro podia proporcionar-lhe uma grande possibilidade de crescimento intelectual, uma vez que muitos cônegos, que ali viveram e viviam, haviam cursado a Universidade de Paris. Os mestres do mosteiro tinham a sua formação pautada, principalmente, em dois tipos de textos, as chamadas Sumas, as glosas à Bíblia e as Sentenças de Pedro Lombardo. O estudo das Sagradas Escrituras era realizado a partir do método agostiniano que tinha como base dois prismas: o da análise literal ou histórica e a espiritual ou figurada.
Além desta experiência com os mestres coimbrãos, Fernando foi influenciado também pela máxima perusina[23] de que a Bíblia seria o principio e o fim de todos os estudos teológicos, o que nos Sermões antonianos é traduzido para a plenitude de toda a ciência, a única que vale a pena e que faz sábios.
De mais a mais, o mosteiro possuía uma biblioteca, com bom suporte em material para o estudo, e também um scriptorium. Em sua obra, Caeiro nos chama a atenção para o fato de que este contava com vários escribas, que tinham como missão transcreverem aquelas obras que chegavam para Santa Cruz através de permutas e empréstimos. Segundo este autor, podemos afirmar que Fernando obteve contato, na biblioteca de Coimbra, com obras de Hugo e Ricardo de São Vitor, Agostinho, Gregório, Jerônimo, Isidoro, Pedro Comestor, Flávio Josefo, Aristóteles e Virgílio.[24] Sendo Assim podemos concluir que a obra de Fernando foi fortemente marcado por este clima cultural de Santa Cruz, uma vez que é toda ponteada por citações destes autores e tem como fonte vital a Bíblia.
Segundo Roberto Ruiz,[25] apesar do impedimento, por parte da Santa Sé, da ordenação sacerdotal de menores de trinta anos, Fernando foi ordenado sacerdote em Coimbra, onde também atuou como clérigo até a sua ida para a Ordem dos Frades Menores.
Porém, apesar da ordenação e do alto grau intelectual adquirido em Coimbra, Fernando, segundo Caeiro[26] e Roberto Ruiz[27], decepcionou-se com o ambiente do mosteiro, pois não pôde colocar em prática todos os ensinamentos armazenados através de seus estudos, uma vez que, ele acreditava, tal estabelecimento estava contaminado por idéias e práticas, tais como o nicolaismo e simonia, que não se coadunavam a vida religiosa. Caeiro cita os teóricos Alexandre Herculano, Carlos Giroud e Antônio Vasconcelos para confirmar que as riquezas doadas ao mosteiro pelos monarcas portugueses desvirtuaram o modo de vida dos agostinianos.[28]
Roberto Ruiz[29] relata, baseado no historiador Jorge Ameal, que ao serem privilegiados por benesses reais e presenteados por muitos burgueses ricos, os cônegos regrantes passaram a dar mais valor as “coisas terrenas” que as “virtudes cristãs”.
Contemporaneamente a esta desilusão de Fernando, chegaram a Portugal os primeiros franciscanos, apadrinhados pela rainha D. Urraca, por volta de 1219. Segundo Caeiro, muitas vezes estes frades maltrapilhos iam até Santa Cruz para conseguir esmolas,[30] que possivelmente causaram em Fernando um certo espanto, uma vez que esta pobreza contrastava com a riqueza da casa dos cônegos.
Fernando, após o pequeno convívio com os primeiros mártires franciscanos, que antes de sua viagem ao Marrocos, local onde ocorreu o martírio, foram a Portugal, ao defrontar-se com seus restos mortais, que voltaram para serem enterrados na Catedral de Santa Cruz, notou, que esta forma de viver a fé estava muito distante da realidade encontrada em sua comunidade e ficou maravilhado com o novo modo de vida oferecido pela Ordem dos Frades Menores e pela possibilidade de pregar aos sarracenos e ser martirizado. A ida ao Marrocos é para Antônio a principal motivação para a sua saída da ordem dos Cônegos Regrantes de Santo Agostinho e sua entrada para os franciscanos, momento que adota o nome de Antônio. Francisco da Gama Caeiro,[31] escreve que este foi influenciado por três principais aspectos da vida dos frades menores. Primeiro, o estilo de vida, que era totalmente voltado para a pobreza evangélica procurando imitar o Cristo nu. Segundo, o modo de pregação, que tinha como principal característica a ida ao encontro das almas, modo diferente do apostolado da ordem dos Cônegos Agostinianos, que ocupavam paróquias determinadas. Por último, a pregação aos muçulmanos que, indiretamente, poderia ocasionar o martírio.[32]
Esta característica, a pregação aos infiéis, é tão forte no ideário franciscano que foi citada na Regra Não-Bulada,[33] que ficou pronta, em 1221, e é um misto de Regra e “diretório espiritual”, pois contém muitas orientações de cunho espiritual e não jurídicos, e foi apresentada aos irmãos no Capítulo de Pentecostes de 1221.
Antônio embarcou para o Marrocos, e chegando lá, ficou doente, o que o impediu de realizar o seu sonho de pregar aos Sarracenos. Após sua tentativa frustrada de martírio, Antônio participou do Capítulo de 1221, no qual foi designado para trabalhar no Eremitério de Monte Paolo em Forli. Este local realmente tornou-se importante na vida franciscana de Antônio, pois aí ele passou a ser notado como exímio pregador e conhecedor das Escrituras Sagradas. Antônio foi indicado, por seu superior, a proferir uma pregação repentina em uma data festiva. Até então ele tinha apenas ministrado os sacramentos, uma vez que era sacerdote, e trabalhava como ajudante de cozinha. O seu discurso de improviso foi tão bem construído que maravilhou a todos. A partir daí Antônio foi colocado na linha de frente da batalha contra as heresias que assolavam a região da România, onde iniciou, desta forma, sua missão de pregador. Falava com o povo, partilhava a existência humilde e angustiante, alternando o trabalho da catequese com a obra pacificadora; ensinava teologia a seus irmãos franciscanos, fazia confissões, debatia em público com os hereges. Desta forma, sua fama chegou até os ouvidos de Francisco que, neste momento, o indicou como mestre de teologia da ordem através da seguinte carta:
A frei Antônio, meu bispo, saúda frei Francisco e augura saúde. Apraz-me que ensine teologia aos nossos frades, sob a condição, porém que por causa de tal estudo, não se extinga neles o espírito da santa oração e devoção, como é prescrito na Regra. Passa bem.
Com esta carta, escrita em 1224,[34] Antônio recebe de Francisco de Assis a autorização para ensinar teologia na Ordem Franciscana, fato este importante, pois até então o fundador era reticente a tal prática.
É muito importante, para a compreensão do papel que Antônio passou a ocupar dentro da estrutura da ordem, a lembrança de que ele não pertencia ao grupo mais próximo a Francisco. Mesmo assim, Antônio foi lembrado no capítulo 48 da Vida I de Tomás de Celano, que foi o primeiro biógrafo de Francisco, e redigiu esta obra em 1228, por ordem do Papa Gregório IX, como aquele que “o Senhor abrira a inteligência para compreender as escrituras, e que falava do Senhor a todo o povo com palavras mais doces que o mel e o favo”.[35]
A partir da incumbência dada a ele por Francisco, Antônio criou alguns centros de estudo para os franciscanos, como Bolonha, o primeiro deles, nos quais as aulas eram marcadas pelo “...espírito de pobreza e humildade.” Em Bolonha, Antônio ensinou teologia a clérigos e leigos partindo do texto bíblico, interpretando e falando da fé para os ouvintes.
Este espírito que Francisco cita na Carta a Antônio, condiciona o magistério exercido por ele, tanto no conteúdo quanto na forma. Assim, sua forma de ensinar estará baseada em sermões. Em seu ministério teológico, Antônio conjugou vários elementos que vão dar seu toque particular: sua formação teológica de cunho agostiniano; sua forma de ensinamento calcado no estudo, na meditação e na contemplação da Sagrada Escritura, segundo a tradição dos Santos Padres; e a idéia de junção da ciência com a unção contemplativa, segundo a orientação de Francisco de Assis.
 Após sua saída de Bolonha, Antônio passou por Provença, Languedoc, Limoges e Berry. Esta área meridional da França passava por um momento de muitos conflitos, ocasionados por lutas políticas e sociais entre católicos e albigenses, que tinham sua doutrina já arraigada nesta região. O Papado, aliado ao poder temporal, combatia a heresia. Porém, a luta se estendeu por vinte anos sem nenhum resultado.
Diante deste fracasso do uso da força, o papa Honório III exortou aos professores de teologia de Paris a dirigirem-se para trabalhar junto aos albigenses. Antônio foi enviado com outros frades, como reforço qualificado, para apoiar os residentes na região no trabalho de evangelização e para cumprir os encargos atribuídos aos irmãos pela direção da Ordem cedendo a pressão da Cúria papal.
Antônio passa então a ensinar e pregar teologia em Montpellier, importante centro universitário e ponto forte da ortodoxia católica, onde dominicanos e franciscanos recebiam adequada formação pastoral e intelectual a fim de pregarem contra a heresia que se espalhava nos territórios adjacentes.
Após a estada em Montpellier, Antônio fixou-se em Toulouse, onde continuou seu trabalho docente. Porém, em 1226, ele mudou-se para Limoges que, na história de Antônio, tem um papel importantíssimo, já que ali lhe foi dado o encargo de Guardião dos Franciscanos da cidade e dos arredores.
Alguns hagiógrafos fixam a data de retorno de Antônio a Itália durante o Capítulo Geral que aconteceu em Pentecostes de 1227, quando foi indicado para a região de Pádua.
Com o entendimento do modo de pregação e do magistério de Antônio, podemos reconhecê-lo como mestre franciscano, pois, com sua vida e palavra, sua doutrina e escritos, sua espiritualidade e o caminho evangélico de sua existência, ele reveste de ciência e oratória a pregação simples e popular de Francisco. Como precursor da Escola Franciscana, ele tornou-se um elo de ligação entre a velha tradição agostiniana e tal Escola. Antônio influencia, através de sua doutrina, propagada tanto por suas obras, pregações e aulas, as gerações de franciscanos seguintes, como fica comprovado nas obras de Boaventura, Bernardino de Sena, Jaime da Marca e Scoto.
Antônio trouxe para o seio da Ordem Franciscana toda uma bagagem intelectual baseada no conteúdo dogmático e moral dos escritos dos Padres da Igreja. Conhecimento que tinha sua base central no pensamento de Agostinho. O frade transporta para sua nova comunidade todos os ensinamento que, talvez, ele acreditasse serem essenciais para a vivência religiosa plena.
Esta transformação cultural trazida ao interior da Ordem pelo ministério teológico de Antônio, foi importante para a libertação dos franciscanos do modelo místico implementado em seu momento inicial no “tipo de civilização que estava se afirmando no mundo, a Ordem ter-se-ia encontrado fora do jogo e talvez inútil”.[36]
Dentro deste ideal de formar novos pregadores para a ordem, o frade começou a redigir sua maior obra, os Sermões Dominicais e Festivos. Os Dominicais foram escritos entre 1227 e 1230 e os Festivos redigidos entre o outono e o inverno europeu de 1230-1231. Estes não são exatamente os que Antônio pregou, sendo, na verdade, um manual para pregadores da ordem e que poderia ser consultado por leigos cultos e religiosos de outras instituições. Seus propósitos, nesta obra, são essencialmente religiosos ou morais, são a tentativa de por a disposição dos frades um elemento de trabalho apostólico. Consistem, então, em um guia prático que, ao mesmo tempo, é uma compilação teórica e doutrinária, contendo dicas de um mestre experiente no ofício da pregação. Caeiro constata, ao analisar os Sermões, que Antônio possuiu uma intelectualidade marcante e uma cultura teológica sólida e que para ele a verdadeira ciência era a Sagrada Escritura, donde extrai grande parte de sua doutrina.




[1] RUIZ, Roberto. Antônio um Santo que falava português. Petrópolis: Vozes, 1995
[2] MACEDO, Jorge Borges de. Os Sermões de Santo Antônio. Porto: Lello & Irmão, 1983.
[3] HARDICK, Lothar. Santo Antônio: Vida e Doutrina. Petrópolis: Vozes,1991
[4]  Idem.
[5]. Idem
[6] RUIZ, Roberto. Op cit..
[7] HARDICK, Lothar. Op cit
[8] CAEIRO, F. da Gama. Santo Antônio de Lisboa. Introdução a Obra Antoniana, Lisboa: Casa da Moeda, 1968
[9] Idem..
[10] Idem.
[11] Idem.
[12] Idem.
[13] Idem
[14] Idem
[15] Idem.
[16] A humildade desempenhará, mais tarde, na concepção da mística especulativa antoniana, um papel essencial.
[17] CAEIRO, F. da Gama. Op cit..
[18] Idem.
[19] HARDICK, Lothar. Op cit
[20] CAEIRO, F. da Gama. Op. cit.
[21] RUIZ, Roberto. Op. cit..
[22] COELHO, Maria H. da Cruz. Santo Antônio de Lisboa em Santa Cruz de Coimbra. In: AAVV. Congresso Internacional Pensamento e Testemunho. Atas... Braga: UCP/FFP, 1996. P. 179-205.
[23] CAEIRO, F. da Gama. Op cit..
[24] Idem.
[25] RUIZ, Roberto. Op. cit..
[26] CAEIRO, F. da Gama. Op cit..
[27] RUIZ, Roberto. Op. cit..
[28] Idem.
[29] RUIZ, Roberto. Op cit
[30] CAEIRO, F. da Gama. Op cit
[31] Idem.
[32] Idem.
[33] SILVEIRA, I. REIS, O. (org.). São Francisco de Assis. Escritos e Biografias de São Francisco de Assis. Crônicas e outros testemunhos do Primeiro século franciscano. 8. ed. Petrópolis: Vozes, 1997.
[34] Idem.
[35] Idem.

[36] ZAVALLONI, Roberto. Pedagogia Franciscana: Desenvolvimentos e Perspectivas. Petrópolis: Vozes, 1995.

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